terça-feira, 30 de março de 2010

A SAIA DA MINHA VIDA



Hoje mamãe já morreu.
Não ficará sabendo que em minha vida existe uma saia.
Nem tão pouco quero que escutem-me os impuros:
mamãe foi mais breve na minha vida do que uma saia.
A saia e eu,
moraremos na vitrina para sempre.
Ela exposta e eu fissurada nela.
Uma coisa temos que aceitar,
Conseguimos façanha insuperável.
Morar para sempre em um mesmo lugar.
Se não fosse minha infância desafortunada,
eu não teria como hospedes:
uma vitrina,
uma saia,
godê,
amarela e prinçada.
Mamãe estava tão branca e fria.
Não tive coragem de confessar,
que quase fui destruída por uma saia,
almejada com tanta dor pela minha meninice!

Vera Aguiar

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